A compreensão das relações sociais é intrinsecamente ligada aos contextos políticos, econômicos e socioculturais ao longo da história. Uma análise retrospectiva revela que conceitos como maternidade e amor materno são construções sociais que evoluíram ao longo dos séculos.

Na estrutura da família aristocrática dos séculos XVI ao XVIII, as mulheres, predominantemente destinadas à procriação, tinham uma participação mínima na criação dos filhos. Recém-nascidos eram confiados a amas-de-leite ou outras famílias logo após o parto, resultando em um distanciamento quase total entre mãe e filho, desprovido de afeto.

Com a Revolução Industrial, a alta mortalidade infantil e a crise econômica levaram a uma mudança de paradigma. O Estado interveio, persuadindo mães a cuidarem de seus filhos, destacando a importância da criança como recurso futuro para a sociedade. Essa transição influenciou as reorganizações familiares e alterou a percepção de maternidade.

As transformações foram motivadas por interesses econômicos e respaldadas por discursos higienistas, como na psicologia e psiquiatria, que contribuíram para a construção do ideal de amor materno como instinto natural. Entretanto, é crucial questionar a crença de que esse amor é inato, uma vez que a sociedade e a linguagem desempenham um papel fundamental na sua construção.

A análise psíquica surge como um instrumento valioso para mulheres-mães lidarem com as fantasias e pressões associadas ao ideal de maternidade. Ela oferece suporte na tomada de decisões, na compreensão e sustentação dos desejos individuais, além de promover a elaboração de conflitos conscientes e inconscientes.

Em suma, esse texto destaca a natureza social e historicamente construída dos conceitos de maternidade e amor materno, enfatizando a importância da análise psíquica na promoção do autoentendimento e na desmitificação de padrões idealizados.